O PS, previsivelmente, porque tem a maioria, optou por deixar a intervenção do público para o final. Foi notório o esforço para sustentar tal posição. Que aquele não era o melhor local para os cidadãos se exporem, que os deputados são mediadores privilegiados na relação dos cidadãos com aquele órgão, que as redes sociais e o e-mail são meios eficazes para expor questões e problemas… Vamos supor que todas estas afirmações correspondem à verdade e que os cidadãos não querem, nem precisam, de facto, de intervir nas Assembleias. Serão motivos para obrigar quem o deseje fazer a uma longa espera? Eu acho que não.
Mas foi no Presidente da Assembleia que o PS encontrou o argumento de maior força. Segundo o Dr. Jorge Magalhães, há muitos anos (devem ser mesmo muitos, porque ninguém se lembra de tal), foi ensaiada a intervenção do público no início e não resultou por falta de interesse. Ora, a realidade é que as intervenções eram escassas no início, tal como eram escassas no final. Estamos a falar de um período em que a democracia em Portugal era ainda uma criança e os direitos de cidadania exercidos de forma muito tímida pela maior parte da população. Querendo intervir, não acredito que alguém o prefira fazer às duas da manhã, quando o pode fazer às 21.30!
Segundo ouvi, esta assembleia gerou estupefação nos deputados do PS. Devo dizer que também eu fiquei estupefacta, quando, acabados os argumentos mais elegantes da bancada socialista, se passou à aspereza: quem precisa que espere. Pois claro, que remédio! Caso não queiram esperar no local, a transmissão em direto (se alguém se mostrar disponível para a fazer) pode incentivar os mais afoitos a saírem da cama à uma da manhã. Chinelinho no pé, talvez um roupão bem quente no inverno, e… voilá, ei-los na sala da Assembleia para intervirem sobre aquele assunto tão importante… Isto se chegarem a tempo…
No calor da refrega, ainda houve tempo para admitir a verdade. Da bancada socialista argumentaram, ainda, que, se os deputados do PSD se queixavam da demora da reunião, ainda queriam a intervenção do público no início para prolongar mais os trabalhos? Ora, veja o leitor se esta observação não é a assunção de que, afinal, se as intervenções do público fossem no início, seriam mais abundantes! Claro que sim, caso contrário tal não implicaria uma reunião mais extensa!
A respeito da duração das reuniões e sobre a intervenção de uma deputada do PSD que chamou a atenção para o facto, gostaria de dizer que, não só a questão é pertinente, como não deverá ser motivo de uma discussão balofa e demagógica por parte do PS, que acusou a deputada de não querer assumir as funções para que foi eleita. Devo dizer a este respeito que nunca, na bancada do PSD, alguém se manifestou incomodado com a hora tardia a que terminam as reuniões. Pessoalmente, sempre encarei esse facto com naturalidade, principalmente porque a maior parte das reuniões se realiza à sexta-feira e o sábado é, para mim, um dia de algum descanso. No entanto, quando as reuniões não são à sexta-feira, como foi o caso, não posso deixar de notar que o facto de me deitar às três da manhã e me levantar às sete implica quatro horas de sono e, na maior parte das vezes, uma enxaqueca, que compromete o meu trabalho no dia seguinte. E assim, para cumprir a minha função de deputada, tenho de prejudicar os meus alunos, que, por sinal, também são lousadenses. Por isso, vamos deixar o discurso demagógico e avaliar as situações com a clareza e o respeito que todos merecem.
Para encerrar este capítulo do regimento, de referir que o PSD se bateu pela rotatividade das intervenções dos vários grupos que integram a assembleia, com o intuito de evitar que o PS tenha sempre a última palavra nas diferentes rondas. O PS foi perentório ao dizer que para a bancada socialista tal era irrelevante, advogando que nunca ninguém foi coartado na sua liberdade de intervenção e outros blás blás para adormecer… No final, a questão era inócua, mas… não! Ao PS caberá, como sempre, a última palavra nas diferentes rondas! É assim, ao estilo de quem pode manda. Essa é a verdade. Este é o argumento mais forte. Incontestável.