Não sei justificar o efeito do sacrifício. Acredito no valor do sacrifício exactamente como na presença de Jesus na Eucaristia, porque Ele o disse. Em diversas circunstâncias, Jesus colocou os seus discípulos entre a espada e a parede, com perguntas do género: «também quereis ir embora?». Passados tantos séculos, ainda não se arranjou resposta melhor que a de Pedro. Em suma: não percebo, mas se és Tu quem o diz… Pedro é a sensatez em pessoa, porque Deus não Se engana nem nos pode enganar, mas a incompreensão permanece, independentemente de se acreditar em Deus e na Igreja. Porque é que o sacrifício é útil? Mistério!
Há casos simples. O sacrifício de um tratamento médico compreende-se. O sacrifício de acompanhar alguém que precisa de ajuda também. Até se compreende o treino desportivo, ou o esforço para ganhar uma competição. O difícil é compreender o sacrifício de Jesus, jejuando 40 dias e 40 noites; ou o sacrifício que a Igreja nos pede de jejuar certos dias da Quaresma: para quê?
Quando o Anjo apareceu aos Três Pastorinhos, em Fátima, fez-lhes um pedido estranho: «Oferecei constantemente ao Altíssimo, orações e sacrifícios de tudo o que puderdes, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores». E, logo no primeiro encontro com eles, Nossa Senhora perguntou: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?».
A proposta é simples: a pessoa sacrifica-se (sem ninguém ver) e isso redunda em bem para os outros. Mas como? O Anjo lá sabe… As crianças, não perguntaram como. Aceitam? Aceitaram. A partir daí, ofereciam muitas vezes o almoço aos pobres, procuravam coisas amargas, não bebiam água no auge do calor, apertavam uma corda áspera à volta do corpo, até magoar, e ofereciam a Deus as doenças, as incompreensões e o medo.
Com a perspectiva dos anos que já passaram, o Anjo tinha razão. O sacrifício daquelas crianças beneficiou uma multidão que elas não podiam imaginar, nem chegaram a conhecer. Pelo efeito misterioso desses sacrifícios escondidos, muitíssimas pessoas se converteram e mudaram de vida, em Portugal e no resto do mundo.
Deu resultado, mas permanece a incógnita acerca de como esses sacrifícios transformaram o mundo. Não sei responder, mas pergunto-me: se um Anjo, ou o Papa, me fizessem a proposta de me sacrificar mais nesta Quaresma, como é que eu reagiria?