É uma tradição de família. Já os bisavós e os avós de Emília, que se apresenta como “Emília das Bolinhas”, faziam estas bolinhas com elástico, que provoca efeito ioiô, a partir de papel mata-morrão. Seguiram-se os pais, que para conseguir sustento para os 14 filhos, adaptaram o brinquedo e passaram a fazê-lo reciclando a prata e o papel de maços de tabaco.
Ela, que desde pequena aprendeu esta arte, participa agora na Festa do Brinquedo, enquanto puder. É uma homenagem aos pais, já falecidos, e uma tentativa de não deixar estas bolinhas, designadas pelo pai como “bolinhas do engate”, cair no esquecimento.
Foi por volta dos 12 anos de Emília que a família, oriunda de Famalicão, se instalou em Alfena. “Os meus pais tinham muitos filhos, nós éramos 14, e também começaram a fazer as bolinhas e iam de festa em festa para nos poder criar”, recorda. “O meu pai sentava-se na beira do terraço e nós de volta. Uns metiam fitas, outros faziam cartuchos, o meu pai amarrava. Era uma fábrica de família”, acrescenta, contando que as suas próprias filhas também ainda aprenderam como se fazia.
Emília só faz a Festa do Brinquedo de Alfena, onde mora. “As pessoas chegam aqui e dizem logo, olha o senhor Manuel e a senhora Maria das bolinhas. Conheço há tantos anos”, aponta a mulher, que faz questão de ter no stand um retrato dos pais, como homenagem.
Ela vende “a bolinha do engate” dos pais, ou a bolinha do amor ou a bolinha da massagem, como lhe queiram chamar. Também a adaptou no formato de “boneca do amor”. Fez também uma cabeça de boneca com tranças, que permite guardar os laços e travessões das crianças, e, este ano, tem sacos de tecido para guardar o pijama, no formato de uma boneca.
Mas a protagonista do espaço é a bolinha do engate, que Emília demonstra, ao vivo, como se faz. Os pacotes dos maços de tabaco são cheios com serrim, faz o formato da bola nos moldes que ainda são do pai. Depois ata com um fio de algodão, mete uma fita com cola artesanal feita com farinha de trigo e, por fim, o elástico.
“Isto era um brinquedo de antigamente. Fazia as delícias das crianças e também dos namorados, que atiravam a bolinha à moça em que estavam interessados para ela olhar para trás. Andam aí muitos engatados com a bolinha. O meu pai vendeu isto por todo o lado”, ri-se.
Emília das Bolinhas não quer que isto caia no esquecimento. “Espero que não deixem isto morrer, era isso que eu não queria”, diz.
Todos os anos tem-se juntado à Festa do Brinquedo nessa tentativa. E tem-se vendido bem. “Na última feira vendi 300 bolinhas”, recorda. Um brinquedo barato, de um euro.