“Cuidado muito cuidado, o fogo há que respeitar, é louco, desatinado, viaja para todo o lado e vidas pode ceifar”. Essa é uma das muitas mensagens das músicas que fazem parte do espectáculo multidisciplinar “Terra Queimada” que vai a cena, hoje e amanhã, em Aguiar de Sousa e Recarei.
A encenação retrata quatro histórias que mostram o que pode correr mal com comportamentos negligentes envolvendo queimas, queimadas ou uso de máquinas agrícolas.
A mensagem é simples: não se deve brincar com o fogo. A meta é que os espectadores se identifiquem com as situações e mudem comportamentos.
Todo o projecto põe a arte e a cultura ao serviço da sensibilização para os fogos florestais.
Quatro personagens e vários erros
São quatro as grandes personagens que marcam esta peça: a ‘Nandinha Costureira’, o ‘JJ das Queimadas’, uma emigrante que regressa de férias e um cão. Todos acabaram por ser causadores ou vítimas de comportamentos negligentes que originaram grandes incêndios, estando, em parte, baseados em histórias verídicas.
A mensagem base é alertar para os perigos do uso do fogo e os consequentes incêndios florestais. “Grande parte dos problemas é gerada por negligência, mostram os relatórios. Paredes é um desses casos”, refere. É que o concelho, segundo as estatísticas, é o do país que tem maior número de ocorrências/ignições.
“Elencamos personagens que acabam por falecer fruto da sua negligência. Casos da Nandinha Costureira que faz o almoço enquanto queima lixo doméstico ou do JJ das Queimadas que nem se apercebe que a roçadeira atrás dele faz faísca e causa fogo. Queremos que as pessoas se identifiquem e que haja uma mudança de comportamentos”, atesta Fernando Moreira.
Trata-se de um espectáculo trágico e cómico e que tem participação juvenil. É multidisciplinar juntando marionetas gigantes, uma banda a tocar ao vivo ou momentos de dança.
Uma das actrizes em cena será Filomena Gigante. Foi ela que, à semelhança de Patrícia Queirós, Emílio Gomes e Cláudia Pinto (os outros actores em cena) escreveu o seu monólogo. Também lhe coube fazer as letras das canções.
“Foi um desafio muito interessante. Às vezes não se pensa muito nestas coisas, nem temos muito a noção. Ter de escrever sobre isto e perceber que às vezes em Paredes há 25 ignições por dia é uma loucura”, admite.
Entrada gratuita mas com marcação
É ela a Nandinha Costureira. “A minha personagem vai queimar lixo doméstico e a coisa vai dar para o torto. Queremos que as pessoas percebam, embora façam isto inconscientemente e sem pensar que pode correr mal, que pode correr mesmo mal e depois não temos o poder de controlar o que está a acontecer”, frisa a actriz.
Nas canções que escreveu há outros alertas. “Vamos todos ponderar, pensar que os nossos actos podem danos provocar se nós não formos sensatos” ou “cada um tem de tentar ser, enfim, mais cuidadoso, porque a vida, há que lembrar, é o bem mais precioso”. O refrão vai encontro ao nome da peça “nunca é demais avisar, tenham cuidado, o fogo não é para brincar, terra viva, não queimada”.
Este espectáculo foi o vencedor na zona Norte do concurso “Não Brinques com o Fogo”, da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais e da Direcção Regional de Cultura do Norte.
O consórcio que o propôs agrega várias entidades como a Associação Cultural Astro Fingido, que tem a responsabilidade da coordenação e supervisão geral/artística, a Jangada Teatro (Lousada), que se incumbirá do desenho de luz e som, a Mandrágora Teatro (Espinho e Gondomar) responsável pela criação das marionetas, a Academia InDance (Porto e Matosinhos) responsável, com a coreógrafa Cláudia Marisa, pelas coreografias e o Bando das Gaitas (Lousada) que ficará ao leme das interpretações da música da autoria de Ricardo Fráguas. No total o espectáculo mobiliza cerca de 40 pessoas, contando ainda com as participações de elementos do CETEATRO (Cete/Paredes) e Ruínas Teatro (Lousada).
As entradas são gratuitas, mas é necessária marcação prévia (producao.