Se não é fácil, para alguém dito “normal”, encontrar oportunidades no mercado de trabalho, para pessoas com deficiência e incapacidade essa tarefa está ainda mais dificultada.
Para ajudar estes jovens e adultos a estarem activos e a terem mais formação, que lhes permita sonhar com um emprego, a ADICE – Associação para o Desenvolvimento Integrado da Cidade de Ermesinde desenvolve, desde 2012, acções de qualificação em várias áreas.
Na passada sexta-feira, foram entregues, no auditório da Santa Casa da Misercórdia de Valongo, mais 60 certificados de qualificação nas áreas de jardinagem, acabamentos de madeira e mobiliário, administração, cozinha e tecnologias de informação e comunicação.
José Moreira, um dos formandos, é um exemplo de que o trabalho dá frutos. Depois de estagiar na Marina Concept acabou por ser contratado. A empresária, Marina Sousa, garante que é uma mais-valia para a empresa.
“Sentia que faltava alguma coisa. Tinha vontade de trabalhar”
“O José ficou agora integrado. É o funcionário mais jovem da empresa”, conta com vísivel orgulho. “Recorri a um apoio do IEFP, mas o José ficava comigo de qualquer forma”, garante, acrescentando que as portas continuam abertas para outros formandos.
Ao lado está José que depois de um curso na áreas dos acabamentos da madeira conseguiu o primeiro emprego. E a experiência de estar a trabalhar tem sido boa, conta o jovem: “tem-se trabalhado muito. Faço um pouco de tudo”.
José Moreira estagiou dois meses e meio na empresa antes de agarrar a oportunidade de trabalhar na Marina Concept. “Aprendi muito”, explica.
Antes de integrar esta formação e de arranjar emprego passava os dias em casa com os pais, a ver televisão, ou “ia passear”. “Sentia que faltava alguma coisa. Tinha vontade de trabalhar”, garante. E diz que não se arrepende. “Chego ao fim do dia cansado mas contente”. No futuro, não exclui a hipótese de fazer outras coisas, mas por agora está feliz nesta empresa.
“Podem ser pessoas com algumas limitações, mas não são nada limitadas na vontade de fazer”
Também o empresário César Gonçalves, da Oficina de Artesanato César, em Ermesinde, participou na cerimónia de entrega de diplomas e atestou a experiência positiva que tem sido receber estes formandos.
“No início tivemos algum receio”, confessou, mas depois “percebemos que podem ser pessoas com algumas limitações, mas que não são nada limitadas na vontade de fazer”, explicou. “Há formandos que já fizeram connosco mais do que um estágio e vão-se criando amizades”, conta.
Neste momento tem duas formandas na empresa e afirma que “são pessoas que nunca se recusam a aprender”. Para já, a Oficina não empregou nenhum dos estagiários, mas o empresário adianta que, se houver alguma vaga, os nomes destes formandos serão os primeiros em cima da mesa.
“Agora estou parada mas estou sempre a perguntar se há mais cursos, porque gostei muito e não queria ficar outra vez em casa. Estou disposta a trabalhar ou a fazer outros cursos”, garante.
“Mesmo quem tem incapacidades tem muito a dar à sociedade, à sua maneira”
Quem também está à espera de algo mais concreto é Alexandre Gomes, de 35 anos. Quando terminou o curso de assistente administrativo na ADICE esteve a estagiar na Junta de Freguesia de Ermesinde onde fazia desmaterialização de informação. Seguiu-se um período em casa e agora voltou à junta, por um ano, em regime de ocupação, o que não é um emprego real.
“É importante para mim estar activo. Antes estava em casa, ia fazendo uns cursos de informática, que é uma área que gosto. Mas trabalhar sempre foi um objectivo”, afirma o jovem.
Defende ainda que é importante para as empresas darem oportunidades a todos. “Mesmo quem tem incapacidades tem muito a dar à sociedade, à sua maneira”, sustenta.
“Depois de receberem estes diplomas não vão ficar esquecidos”, prometeu Maria Trindade Vale
Albino Poças, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Valongo, que acolheu a cerimónia, destacou o trabalho “árduo, difícil, complexo, mas que dá frutos” realizado pela ADICE.
“Este trabalho representa para estes jovens uma maior expectativa de vida. Deixam de se sentir abandonados. É um trabalho que deve ser apreciado pela sociedade”, realçou.
Maria Trindade Vale, presidente da ADICE, destacou que é muito bom conseguirem que alguns destes jovens fiquem integrados nas empresas. Mas realçou que é preciso que haja mais incentivos para as IPSS’s e misericórdias que fazem este trabalho de integração de pessoas com deficiência e incapacidade. “Depois de receberem estes diplomas não vão ficar esquecidos. Vamos procurar outros enquadramentos para vocês”, prometeu a dirigente.