Com poucas excepções, a comunicação social é tremendamente previsível. Como são as mesmas agências que distribuem fotografias e histórias em todo o mundo, encontramos imagens semelhantes em jornais concorrentes ou de países afastados. É impossível um jornal destacar uma equipa de reportagem para a Coreia do Norte, outra equipa para o Médio Oriente, e para a Nigéria, para o Quénia, etc. Por outro lado, os acontecimentos marcantes sucedem-se aleatoriamente nos recantos mais afastados do planeta. Quando um jornal de Lisboa é informado de um atentado em Barcelona, a notícia já está no ar, as fotografias já chegaram e não há nada a fazer. Se o jornal enviar um repórter para cobrir o acontecimento, ele aterra em Barcelona tarde demais, demora tempo a compreender os pormenores e entretanto perdeu a oportunidade. Não há nada a fazer. Um jornalista não pode estar sempre presente, tem de trabalhar com as agências, as declarações oficiais e outras. Não é o ideal, mas quem conhece as manhas do sistema consegue escapar a algumas ratoeiras.
Uma dificuldade recorrente é confirmar a informação. As agências dizem que os terroristas atacaram uma cidade do Iraque… será verdade? Qual a verdadeira dimensão do atentado? As agências atribuem umas declarações idiotas ao ditador norte-coreano… a citação está correcta? Quem traduziu as palavras? Muitos de nós já assistimos a acontecimentos que foram relatados de forma totalmente errada numa colecção incontável de jornais. Uma vez despachada a notícia, o circuito de divulgação fá-la circular instantaneamente por todo o globo; ninguém tem tempo de verificar os factos e, depois, é impossível voltar atrás. A fonte original estava inquinada por um equívoco, ou baseou-se no seu preconceito, ou aproveitou a vulnerabilidade da cadeia comunicativa para manipular a opinião pública. Tudo pode acontecer.
A qualidade do jornalismo joga-se na capacidade de ouvir várias fontes independentes e conhecer o histórico de cada uma. É impossível viajar para todo o lado, mas pode-se construir uma rede ampla de contactos, que proporcione testemunhos fiáveis de vários pontos de vista, para prevenir enviesamentos.
Ainda assim, não basta. As agências noticiosas têm as suas próprias agendas, mais ou menos assumidas, de modo que não se pode contar só com elas, é preciso alargar o próprio radar ao que elas deixam de fora. Nestes dias, rebentou uma bomba nuclear na Coreia do Norte; o furacão Irma deixou um rasto de destruição na Florida e nas Caraíbas; o referendo na Catalunha promete enfrentamentos sérios; a situação no Brasil é escaldante, com acusações judiciais à Odebrecht e aos políticos do PT; nos EUA debate-se a lei dos «dreamers», da segurança social, as relações com os russos. Haverá espaço livre? Sobram uns rodapés para a incursão na Síria e as declarações de Israel de que só atacou alvos militares; e ainda alguns títulos do desporto, as peripécias do Brexit, a impugnação das eleições em Angola, os atentados na Nigéria e nos Camarões, as dezenas de mortos nos incêndios em Portugal, os milhões de euros perdidos pelo Novo Banco… Sobra espaço? Já não, a viagem do Papa à Colômbia já não coube nas capas dos jornais. No entanto, revestiu-se da maior importância.
Depois de um esforço imenso, liderado pela Santa Sé, conseguiu-se que o processo de pacificação chegasse a um final feliz. Fruto desta viagem é que, a partir de 1 de Outubro, começa o cessar-fogo completo, além de outros gestos de reconciliação. Para trás, ficam 70 anos de luta armada, semeados de mortos e feridos.
O Papa encerrou ao mesmo tempo um capítulo triste da história da Igreja, porque os principais promotores da guerrilha eram ex-padres – mais de 500, nalgumas épocas do conflito – vários dos quais tinham como companheiras, ex-freiras. Às mãos desta turma, morreram muitos cristãos fiéis. Nesta viagem, o Papa Francisco canonizoudois deles, o pároco Pedro María Ramirez, assassinado em 1948, e o bispo de Arauca, Jesús Emilio Jaramillo, assassinado em 1989. A repugnância popular pelo assassínio deste último levou a guerrilha a perder apoio, mas a violência arrastou-se ainda por muitos anos.
Paulo VI viajou à Colômbia em 1968, onde teve uma recepção atribulada. Há 31 anos, João Paulo II também semeou paz, no meio de imensas dificuldades. Agora, Francisco celebrou a Missa para um milhão de pessoas. Por fim, a reconciliação.
Contudo, o trabalho não acabou. No avião, comentava aos jornalistas; «Vamos sobrevoar a Venezuela e rezamos por esse país, para que encontre a paz e a estabilidade…».