Contava São Josemaria que em certa ocasião procurou no Ritual Romano a bênção para a última pedra de um edifício e com grande espanto não a encontrou por mais que a procurasse do índice. E teve de se contentar com o texto de uma bênção genérica. Afirmava que “começar é de muitos, mas acabar de poucos” e que é melhor que nos encontremos entres estes que entre aqueles e citava a passagem da Sagrada Escritura que diz que “é melhor o fim de uma obra do que o seu princípio”.
Veio-me isto à ideia ao considerar mais um exemplo da categoria desse grande santo que foi Tomás Moro, tanto na vida política como na familiar, na de chanceler do reino como na de juiz. Nesta capacidade há um episódio revelador do seu empenho por realizar um trabalho aturado e competente. Tendo terminado o estudo de um caso que tinha entre mãos, mandou o escrivão que lhe trouxesse mais processos para continuar o trabalho. O homem regressou com a espantosa notícia de que não havia mais nenhum caso pendente. Era a primeira vez que tal acontecia!
Quem não consegue acabar o seu trabalho no Sporting é o desgraçado do André Carrillo. Jogador desde 2011/12, tem contrato até junho de 2016, mas como não quer renovar esse contrato, não tem sido convocado para os jogos. Vejo com alguma frequência programas de comentadores de futebol e fico espantado com a generalizada compreensão desses “especialistas” que aceitam o tratamento imoral do clube para com este seu trabalhador. Que me lembre, apenas ouvi um comentador, cujo nome não recordo, a dar razão ao jogador que tem todo o direito a que se cumpra para com ele a realização normal do seu trabalho: deixá-lo treinar-se e disputar os jogos se estiver qualificado para tal relativamente aos seus companheiros da equipa.
É unânime a opinião de que se trata de um dos melhores jogadores do clube e de que a sua presença nos últimos jogos bem poderia ter ajudado a evitar alguns desaires. Neste aspeto, foi mais sensato o Benfica que, apesar de o Maxi Pereira não ter renovado o contrato, continuou a jogar e certamente a contribuir para a vitória no campeonato de 2014/15. Sobre este caso, recordo a posição de Fernando Seara que, mesmo sendo benfiquista, reconhecia o direito de este jogador procurar a melhor situação para si e os seus familiares e que pelo que lhe dizia respeito, nunca assobiaria o jogador quando fosse ao estádio da Luz com o seu novo clube.
Uma das razões apontadas para não deixarem jogar o Carrillo foi o de não o querer manter em forma para depois ir, porventura, valorizar plantel de um seu rival. Esta posição mesquinha e antidesportiva contrasta com a de vários casos que tenho observado no snooker, onde predominam jogadores britânicos. Refiro-me a faltas que se cometem sem o árbitro ver, como o de tocar ao de leve uma bola com a mão, e em que os faltosos o declaram, perdendo a jogada sofrendo a respectiva penalização. “Fair play” que também está tristemente ausente dos que “mergulham para a piscina” a ver se pescam um penalti de algum árbitro mais distraído.
Meu caro Carrillo, emigrante peruano de 24 anos, desejo-te um futuro melhor do que coube em sorte neste Sporting.
Como estamos em vésperas de eleições, permito-me confessar que não estou muito agradado com os políticos que nos têm governado, nomeadamente por se esquivarem aos apertos que impõem aos outros. Ainda assim, reconheço ser mais prudente reconduzir o PC/PP (Passos Coelho/Paulo Portas, entenda-se). É que um mal menor sempre é melhor que um mal maior.