Caro leitor,
Ao longo dos últimos meses tomei a decisão pessoal de me abster do comentário político e, por isso, suspendi por alguns momentos a escrita e a partilha de ideias neste espaço. Foram tempos de longas e complicadas jornadas que nos levaram a enfrentar por vezes um maldito bicho que nos últimos 2 anos alterou por completo a forma como encaramos e planeamos o futuro.
A normalidade das nossas vidas tende teimosamente a voltar. Ainda com muitas restrições no que podemos ou não podemos fazer, e limitações de liberdades ainda em curso, tenho a ventura de hoje escrever-lhe novamente a partir de um banco do aeroporto. Distante, mas com um olhar mais crítico, com a certeza de que a política se faz com uma oposição forte, ondetentarei fazer uma observação sobre a gestão do COVID no concelho de Paredes pelo Sr. Presidente de Câmara.
Desconhecimento.
Quando em 2020 o COVID nos envolveu a todos existia um argumento na comunidade que perdoava todos e quaisquer atos de descoordenação, desordem e até mesmo irresponsabilidade por parte dos agentes políticos. A palavra certa era o desconhecimento.
Na primeira vaga, o desconhecimento, o medo e a capacidade sobre humana de todos os profissionais de saúde fizeram com que o país passasse impávido e sereno ao drama que se vivia, por exemplo, em Itália.
No verão, inconscientemente, ao invés de nos preocuparmos com os mais velhos e mais frágeis, acamados e aglomerados em lares, fomos fiscalizar praias, criar regras e festejar o sucesso.
Contudo, despois do verão, e dos festejos infundados, veio o Natal, e todos nós já sabemos a tragédia que foi: colapso do SNS com uma das maiores taxas de mortes por milhão de habitantes. De um verdadeiro país de terceiro mundo.
Cá, pelo Vale do Sousa, o colapso do CHTS foi a tragédia mais evidente. Pessoas acamadas nos corredores das enfermarias, idosos a serem enviados para hospitais a mais de 300km de distância e a morrerem sozinhos, e uma administração em estado de sítio completamente em desespero. Quem não se lembra daquele fatídico email às 9 da manhã a suplicar por ajuda do presidente do CHTS à ARS Norte?
Aqui, já o país estava lockdown novamente: todos os serviços não essenciais fechavam e a norma era novamente ficar em casa. Todo o pequeno comércio para lá do essencial fechava e colocava em sufoco completo milhares de pessoas. Para quem podia, o trabalho a partir de casa era obrigatório.
Em suma: fechados em casa.
A montra digital da vaidade.
E em Paredes, como vivíamos?
Os paredenses mostravam respeito pelas normas com parques e ruas quase desertas.
No Porto, pe, Rui Moreira, alguém que não é do meu partido, vivia e lutava no combate ao COVID. Toda e qualquer acãopolítica era em prol do combate aos mais desprotegidos. Para isso, toda e qualquer comunicação da autarquia era focada nesta luta desigual. Várias foram as iniciativas. Nem preciso de as elencar tamanha foi a notoriedade.
Em Paredes, o Sr. Presidente vivia num mundo alternativo.
Enquanto o CHTS colapsava, o Sr. Presidente apresentava, mais uma vez, uma vez notícias mirabolantes de uma segunda rede ferroviária para Paredes.
Enquanto os seus pequenos comerciantes faliam, o Sr. Presidente criava formulários extensos com regras onde só a apresentação dos documentos exigidos limitava o acesso das pessoas aos respetivos pedidos.
Enquanto todos nós estávamos em casa a cumprir as regras de um país em totalmente fechado, o Sr. Presidente criava rolos e rolos de fotografias a visitar as obras públicas em curso. Estradas, alcatrão e betão em fotografias memoráveis. Somado a isso tudo, acompanhado sempre por uma comitiva que ultrapassava sempre o número máximo de pessoas por ajuntamento no mesmo espaço.
Ah, se duvida, faça você mesmo a pesquisa: facebook da autarquia, entre dezembro e abril, e conte por você mesmo, caro leitor.
Relembro: foi o pico da pandemia em Paredes e no país.
Além do ridículo e da falta de noção, teve consequências claras para o futuro da pandemia em Paredes.
Os líderes são seguidos e os seus comportamentos são um espelho para o seu povo. Se o Sr. Presidente achava que não tinha de ser um exemplo, porque haveriam de os Paredenses ficar em casa? Não tinham. Somos todos iguais perante a lei.
Pior, foi quando nas últimas assembleias descobri que o Partido Socialista e o Sr. Presidente ficavam bravos e ferozes quando o assunto COVID era discutido. Segundo eles é falta de ética e responsabilidade aproveitar-se do COVID para discutir política aprovando mentalmente entre eles uma lei da rolha onde podemos apenas falar dos sucessos deste executivo.
Falta de noção.
É tempo de festa, eu sei. Tudo é perdoado e a exigência está nos mínimos. Mas, nunca se esqueça: as democracias falham quando a oposição é fraca e a exigência é mínima.
Voltemos a falar daqui a 2 semanas!
PS: um dia, em seu tempo, falarei do meu PSD e das últimas decisões.