Compreende-se a importância do milagre que foi aceite pelo Papa Francisco na passada quinta-feira, atribuído à intercessão de Francisco e da Jacinta, os dois mais novos pastorinhos de Fátima. Este milagre era a condição que faltava para a sua canonização e por isso muitos pensam que o Papa os vai canonizar no próximo dia 13 de Maio.
O processo da Irmã Lúcia, a terceira pastorinha de Fátima, deve demorar tempo, porque a documentação e os milagres têm de passar pelo escrutínio de várias comissões especializadas. Só depois de percorrer todas essas etapas é que o assunto chega ao Papa para a decisão final.
Este ano do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima é uma boa ocasião para perceber o que aconteceu. Uma fonte são as «memórias da Irmã Lúcia», uns cadernos que ela escreveu, cada vez que o Bispo lhe pedia um relatório mais específico sobre algum aspecto. Em geral, não lhe apetecia pegar na caneta, mas acabava sempre por escrever páginas cheias de pormenor. Encarava aquele exercício como longas cartas de resposta ao Bispo ou ao Reitor do Santuário, sem pensar que, no final, poderiam ser publicadas. Talvez porque as comunicações não eram fáceis naquele tempo, as «memórias» saíram em livro antes de lhe pedirem a opinião. Paciência! Não era bem a intenção da autora, mas já não havia nada a fazer.
Um dos pontos notáveis da história de Fátima é a reacção dos dois pastorinhos. Sendo ainda tão novos (a Jacinta tinha 7 anos e o Francisco 9), eles confiaram totalmente em Deus, com uma intensidade heróica. Fizeram-nos sofrer muito, suportaram ameaças gravíssimas, mas, em vez de ficarem abatidos, cada vez confiavam mais, com uma serenidade que contagiou multidões.
Um dia, o Administrador de Ourém, anti-clerical furioso, fechou as crianças num quarto prometendo que, a seguir, as ia queimar vivas. No momento em que estavam à espera do destino fatal, umas lágrimas correram pelas faces da Jacinta, de 7 anos: «Eu queria sequer ver a minha mãe!». «Então tu não queres oferecer este sacrifício pela conversão dos pecadores?», pergunta-lhe a prima. «Quero, quero!» e, com as lágrimas ainda a banharem-lhe as faces, faz o oferecimento. Os outros presos, que presenciaram a cena, comoveram-se. Quando os três pastorinhos começam a rezar o Terço, todos ajoelharam e alguns, que sabiam a oração, rezaram também. No final, para distrair as crianças ameaçadas de morte, os presos começaram a tocar harmónica, a cantar e a dançar. A Jacinta foi então o par de um pobre ladrão que, vendo-a tão pequenina, terminou a bailar com ela ao colo. A história de Fátima é um nunca mais acabar de emoções e de ternura.
A propósito de ajoelhar, ouvi várias testemunhas presenciais contarem que, em Outubro, quando se deu o milagre, os mais devotos fecharam os guarda-chuvas e ajoelharam, apesar de o chão estar coberto de lama. No final, os que tinham ajoelhado estavam limpos e enxutos e os que se tinham protegido da chuva estavam encharcados…
Graças a Fátima, ajoelharam os peregrinos com fé, os ladrões de Ourém e até os intelectuais ateus. Quando se deu o milagre do Sol, Afonso Lopes Vieira saboreava o vento e o mar em S. Pedro de Moel, sem o mínimo interesse pelo que pudesse acontecer na Cova da Iria, a 40 km de distância. De repente, viu o Sol mudar de cor e mexer-se. Depois, veio a saber que o mesmo tinha acontecido em Fátima e converteu-se. Foi ele quem escreveu a letra do conhecido hino de Fátima.