“Perdi o emprego por ter que ir à casa de banho de 10 em 10 minutos”. Francisco Peixoto é um dos cerca de 7.500 homens da região do Tâmega e Sousa que sofre de incontinência urinária. Depois de uma operação à próstata, há seis anos, passou a ter que lidar com esta patologia e os seus sintomas, vendo-se obrigado, inclusive, a mudar de emprego. Esta manhã, partilhou a sua história durante a sessão de esclarecimentos realizada pelo serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) no Hospital Padre Américo, em Penafiel, para assinalar o Dia Mundial da Incontinência Urinária (14 de Março).
Esta patologia afecta cerca de 600 mil portugueses, cerca de 33% das mulheres e 16% dos homens, diz a Associação Portuguesa de Urologia. Apenas 10% procura a ajuda de um médico, sustenta a associação, referindo que a vergonha pode estar a impedir muitas pessoas de alcançar a cura.
As perdas de urina podem ter um grande impacto psicológico, emocional, social e económico na vida das pessoas. Mas a taxa de cura da incontinência urinária ronda os 90%.
Marceneiro teve que deixar o emprego
Segundo números avançados pelo serviço de Urologia do centro hospitalar, a doença afecta um homem por cada três mulheres. No total, sofrem de incontinência urinária 43 milhões de homens em todo o mundo, 150 mil deles em Portugal e 7.500 na área de referenciação do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
A patologia tem um grande impacto na qualidade de vida dos doentes. Francisco Peixoto, residente em Freamunde, Paços de Ferreira, viu-se confrontado com o problema há seis anos, depois de uma operação em que removeu a próstata. “A equipa médica tinha-me informado que ia ficar com perdas de urina. Era suposto ser temporário, mas ao fim de alguns meses continuou. Fiz fisioterapia mas não resultou”, conta o pacense de 65 anos.
O problema de saúde acabou por causar-lhe dificuldades no trabalho e conduzi-lo a uma situação financeira complicada. “Era marceneiro. Tinha que pegar em coisas pesadas e não podia. E tinha que ir muitas vezes à casa de banho. A relação entre mim e o patrão foi ficando pior. Perdi o emprego por ter que ir à casa de banho de 10 em 10 minutos”, partilhou Francisco Peixoto.
As perdas frequentes de urina obrigavam-no a usar pensos e fraldas e o valor do subsídio do desemprego “não chegava” para as muitas despesas. “Fiquei numa situação financeira difícil”, confessa. Não desistiu e acabou por encontrar emprego num café, atrás de um balcão, e onde tinha acesso fácil a uma casa de banho.
No início deste ano foi sujeito a uma cirurgia e colocou um esfíncter urinário artificial. “Sinto-me melhor, tenho outra qualidade de vida e outra autonomia”, afirma. “Ainda tenho perdas, mas são mínimas, umas pinguinhas de longe a longe. Ainda uso penso com medo das perdas de urina”, reconhece, contando que a situação normalize.
A quem sofrer da mesma condição deixa um conselho: “Que tente levar as coisas o melhor possível. Não vale a pena entrar em desespero. Isso não leva a lado nenhum. Sempre me convenci que existia o problema e tinha que o ultrapassar”.
Patologia pode levar a quadros de depressão
Francisco Peixoto soube adaptar-se. Mas há pacientes que não o conseguem fazer e acabam por ter problemas de depressão.
“A incontinência urinária gera grande tensão emocional e psicológica e tem um grande impacto na vida das pessoas”, explicou Carlos Araújo, da Unidade de Psicologia do CHTS.
Entre os sintomas que, geralmente, afectam os doentes com esta patologia estão tristeza, desânimo, a não-aceitação e a revolta face à condição que enfrentam, a baixa auto-estima, os prejuízos nas relações afectivas e sexuais e o isolamento social.
No final do evento, Joaquim Lindoro, director do serviço de Urologia do CHTS, falava de umas “jornadas muito produtivas e participadas e com dados sobre inovação”. “Consideramos que tiveram sucesso”, sustentou o médico.
Joaquim Lindoro também acredita que “vai ser sempre preciso falar deste tema” e promete que o serviço voltará a realizar novo evento para marcar o Dia Mundial da Incontinência Urinária no próximo ano. “Continua a haver muita gente com vergonha de falar do problema e vai haver sempre inovações nas soluções para melhorar e curar a incontinência urinária”, afirmou. Cerca de 20% das pessoas da região com 40 ou mais anos sofrem de incontinência, disse.