Não vale a pena estabelecer hierarquias de horror e comparar a lei do aborto com outros momentos da história nacional ou da história do mundo, basta dizer que, em vez de proteger a vida humana, o país aceitou uma forma de assassinato. Começou-se com o pretexto de fechar os olhos a dramas particulares mas rapidamente se resvalou para a crueldade mais fria. O fanatismo dos que promoveram esta legislação foi ao ponto de recompensarem com subsídios quem aborte, incluindo o direito a férias ditas «de maternidade»; em contrapartida, até se esgotar o prazo legal para abortar, negam qualquer apoio do Estado às mães que não abortarem.
Antes fosse uma velha lei esquecida, herdada de tempos bárbaros que ainda não tinham ouvido falar da dignidade da pessoa humana. Antes fosse.
Perante uma desgraça tão grande, cuja solução ultrapassa a capacidade humana, o grupo «Mãos Erguidas» colocou o assunto nas mãos de Deus. O nome que escolheu corresponde ao propósito de vencer com oração a resistência dos corações empedernidos da sociedade em que vivemos. Compraram uma pequena casa em frente da clínica de abortos de Lisboa e ali se revezam a rezar, a rezar, a rezar. Estando tão próximos daquele local terrível, em que se despedaçam vidas, oferecem ajuda a quem queira escapar desse caminho. Fazem-no de uma forma enternecedora, sumamente respeitosa para com aquelas pessoas, que chegam muitas vezes angustiadas, abandonadas e sem forças para tomarem decisões justas.
Há histórias comoventes, de lágrimas felizes de pessoas desesperadas que descobrem, a um passo do abismo, uma amizade verdadeira que as agarra e as devolve à vida. Também há quem tome consciência do que fez quando já é tarde demais. O sofrimento é, então, insuportável e chegam a odiar-se. É preciso explicar-lhes que Deus as quer felizes e lembrar-lhes que Jesus dizia que quem é mais perdoado também ama mais. As «Mãos Erguidas» ajudam no que podem, acompanham ao médico, ao psicólogo, ou conseguem outros auxílios, conforme as necessidades. Por exemplo, o traumatismo psicológico que se produz quando a pessoa ganha perspectiva sobre o que aconteceu e não consegue lidar com a própria culpa requer frequentemente um apoio psicológico especializado.
Os «40 dias pela vida» (de 1 de Março a 9 de Abril, www.40diaspelavida.org; ou telefone 93 404040 9) são o convite a juntarmo-nos à oração habitual.
Os exércitos demoníacos do egoísmo, da ganância e do medo batalham contra Deus naquele terreiro. E Deus vai à luta com um exército de mão erguidas, sem armas, mas com um coração disposto a entregar a própria vida até ao fim. As entradas do diário dos «40 dias pela vida» parecem telegramas da linha da frente, onde se luta entre a morte e a vida.
«Hoje uma mãe grávida do quinto filho ficou de pensar, e com vontade de ter o bebé. Tem medo da reacção das assistentes sociais… Uma grávida de 7 semanas saiu de fazer a ecografia; o namorado não quer que ela aborte; ela ficou a pensar e diz que talvez tenha o bebé… Uma grávida de 18 anos ia sozinha e emocionou-se quando foi abordada. Tem emprego e o namorado quer apoiá-la. Acha-se muito nova; prometeu pensar e foi embora de lágrimas nos olhos. Outro casal, ela de 19 anos e ele de 25… Outro casal jovem, já com um filho de 6 meses… Enfim, muitos motivos para rezar».
«Ontem de manhã, além dos habituais, estiveram 20 jovens a rezar e – à hora a que se tinham comprometido – foram aparecendo famílias, ontem e hoje, para rezarem o terço».
«Acabei de saber que hoje, graças a Deus, se salvaram 3 bebés!!! Ainda não sei pormenores, amanhã conto».
Outras vezes, lê-se um desabafo: «Tenho de partilhar um pouco de desânimo, desculpem. Não sei o que se passou, vieram poucos, além das pessoas habituais… e, no entanto, todas as semanas são mortos cerca de uma centena de bebés. Haverá mais sítios em Lisboa onde haja oportunidade de tentar salvar tantas vidas inocentes? Prometo contar histórias amanhã, e com a oração de todos, espero que sejam bonitas:-) ».